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Como reconquistar uma amizade perdida? – Por Daniel Lima


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Amizade é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, já dizia o cantor. A amizade é realmente um bem valioso, mas delicado. Há amigos que não vemos por anos, mas ao nos reencontrarmos parece que nunca estivemos longe um do outro. No entanto, com frequência ouvimos ou experimentamos a morte de amizades. Estas são aquelas amizades em que após um conflito não há verdadeira restauração. Um dos lados opta por manter-se distante, mesmo que passe pelo “perdão ritual”. Mesmo entre cristãos isso é tristemente comum. Na minha vida (tenho hoje 60 anos) posso indicar com tristeza algumas amizades que morreram. A grande maioria destas mortes foi fruto de um conjunto de responsabilidades, tanto minhas como do outro.

Provérbios 18.19 nos alerta sobre a dificuldade de retomar uma amizade que aparentemente acabou:

Um irmão ofendido é mais inacessível do que uma cidade fortificada, e as discussões são como as portas trancadas de uma cidadela.

O texto indica com clareza que uma ofensa pode terminar uma amizade. No entanto, como todo texto sobre relacionamentos, este deve ser entendido em um contexto mais amplo e complexo. Conheço pessoas que, tendo se dado conta do perigo de atritos em uma amizade, optaram por simplesmente evitar confrontações a qualquer custo. Uma amizade assim será, no mínimo, limitada. Quando uma amizade evita a tal ponto atritos que deixa de confrontar, ela se torna algo diferente. É um relacionamento seguro, mas não alimenta a alma.

Provérbios 27.6 nos mostra um contraponto: “Quem fere por amor mostra lealdade, mas o inimigo multiplica beijos”. De maneira muito clara este texto, também tratando de amizades, afirma que um amigo verdadeiro irá ferir a quem ama. Na verdade, o alerta é para aqueles amigos que parecem concordar com tudo. Estes podem ser amigos falsos ou até mesmo inimigos.

Para corroborar existe ainda a instrução, também de Provérbios, que afirma: “Não repreenda o zombador, caso contrário ele o odiará; repreenda o sábio, e ele o amará” (9.8). Neste verso a instrução é para que se repreenda o sábio, para que este cresça, e como resultado ele o amará ainda mais!

Um amigo verdadeiro irá ferir a quem ama.

Em resumo: (1) sou chamado a “ferir” (confrontar) a quem amo; (2) o sábio, ao ser confrontado, ama mais quem o confrontou; e, ao mesmo tempo, lemos que (3) um amigo se torna inacessível ao ser ofendido. Diante destas realidades, como proceder? Neste artigo quero me concentrar em como reconquistar o irmão e não na questão da ofensa em si.

1. Procure o amigo ofendido e se reconcilie (Mateus 5.23-24):

23Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, 24deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.

A instrução de Jesus é clara: procure aquele(a) que você sabe que está ofendido(a) contigo. Não importa se você acredita que fez algo ou não contra esse amigo. Creio que uma das maiores barreiras a esse passo é nosso orgulho de acreditar que vemos a situação com clareza e que o outro está errado. Com isso não nos abrimos para a possibilidade que, mesmo sem intenção, tenhamos realmente ofendido a quem amamos.

2. Humilhe-se diante do Senhor. Ao buscar a reconciliação, não se defenda, mas humilhe-se (Tiago 4.1,10):

1De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? 10Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará.

Essa humildade não significa aceitar mentiras, mas significa assumir que o seu modo de ver o conflito pode não ser o correto. Significa admitir que há outros elementos que afetaram o contexto, os quais, ou você não viu, ou não valorizou. Enfim, significa que mesmo que sua intenção tenha sido boa, o pecado que habita em cada um de nós pode ter deformado sua ação, de forma que no final foi mais uma ofensa do que uma benção.

3. Após fazer tudo ao seu alcance, fique em paz. Infelizmente, é comum que o amigo ofendido não aceite reconciliar-se contigo. Às vezes ele dá o passo do perdão, mas se recusa a dar o passo seguinte – de aceitar uma reconciliação. É uma dura realidade de nossa condição de caídos, pois existem situações que não dependem de nós (Romanos 12.16b-18):

16bNão sejam sábios aos seus próprios olhos. 17Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. 18Façam todo o possível para viver em paz com todos.

Uma vez que você fez todo o possível, é hora de descansar no Deus de toda a paz. Ele continua agindo tanto em ti como na pessoa ofendida. Ele vai conduzir ambas as vidas para a glória dele.

Após fazer tudo ao seu alcance, fique em paz. Deus continua agindo tanto em ti como na pessoa ofendida.

Minha oração é que tenhamos a ousadia de confrontar o erro na vida uns dos outros em nossas amizades. Dietrich Bonhoeffer, conhecido teólogo alemão, escreveu:

Nada pode ser mais cruel do que a indulgência que abandona outros no pecado. Nada pode ser mais compassivo do que a severa repreensão que chama outro cristão em sua comunidade de volta do caminho do pecado.1

Ao mesmo tempo, minha oração é que nesta tarefa nós não nos causemos ofensas uns aos outros. E caso isso ocorra, que possamos nos reconciliar. Por fim, se mesmo após todos os seus esforços a reconciliação não lhe for concedida, que as doces consolações do Espírito Santo tragam paz ao seu coração.

  • 1 Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão (São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 1997).

Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.

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